A nossa companheira Pinar Selek, socióloga, feminista e escritora, tem sido injustamente acusada ao longo dos últimos 11anos, de ser responsável pela explosão do “Spice Bazaar” (mercado das especiarias, Istambul). Apesar de já ter sido absolvida por duas vezes, a absolvição foi injustamente invertida pelo 9º Departamento Penal do Supremo Tribunal em Março de 2009. A objeção por parte do Escritório Principal da Acusação contra a decisão do 9º Departamento Penal foi rejeitado por maioria de votos em Assembleia Geral do Supremo Tribunal na semana passada. Após todos estes anos, continuamos á espera que justiça seja feita apesar das injustas sentenças ordenadas pelo tribunal.
É escusado dizer que “nós somos testemunha de Pinar Selek”. Porque hoje, tudo o ela fez pelos direitos de igualdade, liberdade, paz e justiça é conhecido não somente na Turquia mas sim por todo o mundo. Aqueles que testemunharam o processo do seu caso e da sua absolvição nas salas do tribunal mantém a sua postura enquanto testemunhas. Dia após dia, o numero de testemunhas aumenta. Contudo, outro facto conhecido na Turquia bem como no resto do mundo é que estabelecer justiça na Turquia é uma tarefa muito difícil; e que a maior parte dos esforços acaba em fracasso ou grande sofrimento. Neste ponto de situação, a inocência de Pinar é bastante óbvia; todos necessitamos que justiça seja feita em nome de paz e direito na Turquia. Um dos passos mais importantes neste caminho é e será a absolvição pública e final de Pinar Selek.
Esta é a altura de rever todas as injustiças que têm vivido na nossa memória. As alturas em que ao longo dos anos temos testemunhado e onde todos e quaisquer esforços têm sido desaprovados um a um...
Antes de mais, a causa original da explosão, que é obviamente um ponto importante no serviço da justiça, foi, deliberadamente ignorado por parte de algumas autoridades. Vários especialistas disseram contínuamente que “a explosão foi causada por uma fuga de gás e não por uma bomba”. Por alguma razão, o Tribunal Penal não quis ouvir falar dos relatórios dos especialistas. Sendo este o caso, há anos que andamos numa confusão relativamente ao motivo contra o qual devemos protestar. Deverá ser contra o Tribunal Penal, cuja decisão ignora por completo o veredicto final dos relatórios? Ou contra a injustiça a que uma socióloga tem sido contínuamente acusada, apesar da sua inocência já ter sido comprovada?
Seguindo uma outra questão: A explosão não foi causada por uma bomba. Contudo, seja qual for a razão que causou a explosão, o que é que isto tem a ver com Pinar Selek? Durante o interrogatório, Pinar não foi questionada acerca da explosão; no entanto, mais tarde, aparece subitamente um suposto criminoso, através do qual Pinar é acusada deste crime. Trata-se do réu Abdülmecit Öztürk, que mais tarde confessou ter dado essa indicação “sobre pressão e agravada tortura”... Primeiro Öztürk disse, sobre pressão, que teriam cometido o crime juntamente com Pinar; tendo depois explicado contínuas vezes que “nem sequer conhecia Pinar Selek”. Todas as questões que temos colocado ao longo destes anos mantém-se sem resposta: como é que o registo de testemunho, negado pelo próprio Öztürk uma vez ter sido conseguido sobre pressão – o que agorá se terá tornado num grande escândalo de autoridade – pode ser aceite, mesmo não tendo sido sustentado por quaisquer provas de crime? Mais ainda, como é que Pinar Selek, que nunca sequer fez mais que uma citação sobre a explosão, que já foi absolvida deste caso, pode ser acusada repetidamente enquanto Öztürk dizendo que “ele, o próprio, cometeu o acto”, tem a sua absolvição confirmada pelo Tribunal?
Chegando a este ponto, estamos agora completamente cientes de que este caso não se trata de questões legais mas pura e simplesmente de questões políticas... É a luta por paz e justiça de uma honesta, ativa, camarada socióloga que sempre esteve ao lado daqueles vitimizados, excluídos ou que sofreram injustiças, e que sempre vincou uma posição pela igualdade e liberdade na sua sociedade. Como tal, este caso não se trata somente de Pinar, trata-se sim de todos aqueles que trabalham pela mesma causa que Pinar; é o nosso próprio caso. Certamente não nos é desconhecida esta política que envolve pensadores críticos como Pinar tornados em alvos por condenação de “bombardeamento”, tais, neste país. E é por isso que desejamos e esperamos que justiça seja feita não somente para Pinar mas para nós próprios, bem como para o nosso país...
Até que a justiça seja feita, nós continuaremos a exigir; não só por Pinar, mas por tudo o que esteja na escuridão seja iluminado, para que toda a consciência fique tranquila, para que a Turquia tenha finalmente paz... Simplesmente porque para nós, não há outra forma de viver.
Amargi
Cooperativa das Mulheres